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O que faz um psicanalista?

Atualizado: 27 de ago. de 2024

Quando nós estudamos assuntos específicos durante muito tempo, é comum naturalizarmos certos conceitos e ideias como se fossem algo corriqueiro, que faz parte do cotidiano de todos. Um exemplo disso é a distinção entre Psicologia e Psicanálise. Imagino que a imagem que se tem do psicólogo atuando seja atendendo pessoas através da psicoterapia. Um psicólogo atua em diversas áreas, como em escolas, empresas, no esporte, na justiça, em consultorias, etc. além da clínica. E além disso, existem diversas abordagens dentro da própria atuação. Se quiser saber sobre abordagens, escrevi um texto sobre isso, basta clicar ao lado (clique aqui) Nesse texto eu diferencio a psicanálise da psicologia. Hoje pretendo dizer o que faz um psicanalista na clínica.


Primeiro, o que é a psicanálise? Ela tem por princípio o estudo do Inconsciente. Na psicanálise entendemos que somos divididos em duas instâncias psíquicas: a nossa Consciência e aquilo que está para além da consciência, que seria o Inconsciente.

Sigmund Freud foi o criador da Psicanálise, e ele chamava este inconsciente de "outra cena", que não possuímos acesso a ela pois existe algo que nos impede, o recalque, deixando este conteúdo inacessível, ou seja, inconsciente. Porém, tal conteúdo busca formas de se tornar consciente, e por isso esta barreira da resistência é feita a todo instante, sem que percebamos. E tal dinâmica gera um conflito entre estas duas instâncias, criando o que chamamos de sintoma. Para a psicanálise, o sintoma é o indicativo de um conflito que ocorre com conteúdos inconscientes, influenciando em nossas vidas. É um conteúdo que não temos acesso, mas se apresenta para nós por meio de representações. O interesse que a psicanálise tem no inconsciente está ai, pois foi observado que o conteúdo que permanece inconsciente influencia em nossas vidas constantemente, definido padrões de comportamento, medos, angústia, ou seja, os sintomas.

Mas se este conteúdo é inacessível, como a psicanálise atua com ele? Através de algumas técnicas: A associação livre por parte do paciente e manejo da transferência e atenção flutuante por parte do analista. Vamos ver elas:


Associação Livre

Quando se atende pacientes na nossa clínica, é possível observar que os sintomas se ligam a certos eventos, que estão ligados a outros, e a outros, etc. formando uma cadeia associativa. E a forma de defesa ligada a este evento traumático interrompe esta cadeia associativa. O recalque é um tipo de esquecimento especial. É um mecanismo de defesa contra pontos que são insuportáveis, e por isso precisam se manter esquecidos. Dessa forma, resistimos, criando barreiras que mantenha distante da consciência este conteúdo. Mas o recalque não é um simples esquecimento. Como o psicanalista francês Jacques Lacan diz, esquecemos que esquecemos. Esquecemos do próprio esquecimento. Porém tal conteúdo não é eliminado, por isso este permanece inconsciente, e dessa forma buscando superar a barreira do recalque.


A técnica da associação livre busca entrar em contato com este conteúdo inconsciente. Mas como acessar algo que é inacessível? Através de um método simples: falar da forma mais livre possível, tentando tirar qualquer barreira aos pensamentos que surgirem. Isso significa dizer aquilo que vem a mente no momento que se está em terapia, sem se preocupar se o que se fala possui sentido, ou se é errado ou condenável. Isso porque ao falar de forma livre foi observado que a resistência a este conteúdo se torna mais fraca, e aquilo que é reprimido "escapa" de alguma forma. A associação livre liga os pontos desta cadeia associativa. A ideia de que falta sentido na fala, por exemplo, é a ação do recalque sobre esta cadeia. O trabalho do terapeuta é auxiliar a lidar com esta resistência, que normalmente é muito forte.


Manejo da Transferência e atenção flutuante

A relação com o terapeuta é uma relação diferente. Foi observado que há elementos que são transferidos entre os envolvidos nesta relação. E é papel do analista observar e lidar com os estes elementos com o objetivo de favorecer o trabalho que o paciente faz em relação ao seu inconsciente. Se entendemos que a clínica psicanalítica se faz através do inconsciente, é do inconsciente do paciente que estamos falando. O papel do analista é auxiliar seu paciente a ter acesso a este conteúdo inconsciente. Assim, o psicanalista irá através da observação e reação a estes elementos da reação auxiliar seu paciente no acesso a este conteúdo inconsciente.


Outro ponto diz respeito a forma como o psicanalista escuta o que lhe é dito. Como já foi dito, a Psicanálise entende que somos divididos em duas instância. Aquilo que falamos diz respeito à nossa consciência. Porém, o inconsciente tem formas de se expressar na fala. Alguns elementos, como a troca de palavras, a repetição de termos, a mudança de intensidade, as expressões geradas pelo paciente, isso indica que existe um outro elemento. Por isso, o psicanalista não fica atento especificamente ao que está sendo dito, mas a estes elementos. Por exemplo, o ato falho, que é uma troca de palavra que produz um novo significado, indica que o inconsciente encontrou um meio de falar aquilo que a consciência não quer falar. A atenção flutuante diz respeito a ficar atento a estes sinais.


Através desta atenção o terapeuta é capaz de devolver ao paciente aquilo que ele diz mas não quer ouvir. Por exemplo, as contradições de sua fala, ou a utilização de palavras específicas em contextos que ela não apareceria. Esta observação se faz através desta atenção flutuante. O trabalho do psicanalista é intenso e muitas vezes imperceptível, assim como o inconsciente que ele se debruça a descobrir.

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