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Como ajudar pessoas em sofrimento psíquico?

Atualizado: 3 de dez. de 2023



Certa vez me perguntaram sobre o que fazer para ajudar uma pessoa em sofrimento psíquico. A pessoa que me fez a pergunta estava preocupada com alguém próximo, e sentia que não sabia o que fazer. Em cima deste ponto que me foi colocado, gostaria de apresentar alguns pontos de reflexão sobre o tema. Por se tratar de uma reflexão baseada na minha experiência profissional e vivência pessoal, vocês perceberão que alguns pontos aqui colocados serão semelhante a algumas recomendações sobre o tema , mas apresentadas de forma diferente. Vamos aos 3 pontos:


  1. O CUIDADO DE SI

De maneira simples, quando não estamos bem, dificilmente conseguimos fazer bem ao outro. Abaixo falarei de dois elementos que atrapalham esse processo, mesmo que a intenção da pessoa em ajuda seja a melhor possível.


Existe um processos de defesa psíquica chamado projeção. Em termos resumidos, neste processo projetamos nos outros elementos presentes no nosso interior que rejeitamos de alguma forma. Logo, é comum que ao se deparar com queixas vinda de outras pessoas, misturarmos nossas questões com a dos outros. Pois ao entrar em contato com o sofrimento do outro, isso reverbera em nós, e logo transferimos nossa questão, sem que percebamos, para o outro, e resolver o problema que o outro apresenta passa a ser uma questão pessoal.

Que fique claro que isso ocorre sem que percebamos. Ao lidar com pessoas fragilizadas psicologicamente, este processo de inversão do foco pode ser bem negativo para quem está buscando algum tipo de acolhimento para suas questões. Isso por que ao invés de se sentir escutado, o efeito acaba sendo o oposto. Quando possuímos muitas questões que não conseguimos resolver, este processo ocorre muito mais, e de uma forma mais intensa. A melhora da pessoa passa a ser uma questão mais sua do que da outra pessoa. Acreditamos que estamos buscando o bem do outro, mas no fundo, estamos, sem que percebamos, tentando diminuir nossas angústias.


Como foi observado acima, também nos identificamos com o que nos falam. Somos seres sociais, assim, nossas relações sociais são importantes. Nós buscamos encontrar lugar para o nosso sofrimento através das narrativas que criamos para ele. Por isso, falar do que nos aflige produz efeito em nós. E ao ouvir outras histórias, também encontramos elementos da nossas próprias questões. Desta forma, ao dar acolhimento ao sofrimento de alguém, temos chance de entrar em contato com o nosso próprio sofrimento. Se não estivermos bem, isso pode ser bastante pesado, e ao invés de ajudarmos, estaremos nos colocando numa situação da qual não estamos preparados para lidar.


Por isso, o cuidado de si é muito importante para quem quiser lidar com pessoas neste tipo de situação. Para tentar ajudar o outro é importante estarmos bem. E este ponto pode piorar muito se estiver associado ao próximo ponto que falarei agora, tornando-se um grande problemas para todos os envolvidos.


        2. ENTENDA SEUS LIMITES

Cada pessoa encontra com suas próprias pernas o caminho para suas questões. Veja, por exemplo, o tempo que uma pessoa leva para procurar ajuda profissional de um terapeuta. Caso você faça terapia, veja quanto tempo levou desde o momento que percebeu que precisava de ajuda até o dia que começou a terapia. E caso não faça, perceba como, mesmo tendo interesse, ainda não foi possível começar. Algumas pessoas levam meses até dar este passo, as vezes anos até marcar uma sessão. Isso ocorre por inúmeros motivos, mas o principal é que só conseguimos fazer o que somos capaz no momento em que vivemos. Assim, se a pessoa não busca ajuda, provavelmente é porque naquele momento ela não está pronta ainda. Por mais que as pessoas de fora não consigam entender, as vezes uma decisão ou mudança de pensamento é muito difícil para aquela pessoa.


Assim, é importante respeitar o tempo de cada um. Ter paciência nesse momento é fundamental. E para isso, é importante entender que se alguém não consegue realizar a mudança que você deseja, não é porque você não conseguiu fazer ou falar a coisa certa. Não se recrimine por isso. Só o fato de você se dispor a ajudar a pessoa, por mais que naquele momento não surte algum resultado significativo, não quer dizer que você não conseguiu fazer nada. O papel de quem procura ajudar uma pessoa fragilizada não é de mudar a forma da pessoa pensar ou agir, mas estar junto para dar apoio neste processo, que pode levar um tempo variado.


Quando não estamos bem, tendemos a não ter tanta paciência, e misturamos as questões do outro com as nossas. É comum, como eu disse antes, que quando estes dois pontos não se encontram (o cuidado de si e a compreensão de seus limites), a pessoa que se propõe a ajudar acredite que não está fazendo nada, ou não conseguir ter paciência para estar presente para esta pessoa. E da mesma forma, cuidar de si ajuda a entender os nossos limites. Aquilo que nos propomos a fazer para ajudar os outros é limitado pelas próprias situação que este outro se encontra. E muitas vezes, podemos acreditar que não estamos fazendo nada, mas para a pessoa que recebe nossa atenção, fazemos toda diferença.





   3 . ESTAR JUNTOS

Como disse antes, cada um encontra com seus próprios passos o seu caminho. E o que podemos fazer com a pessoa que queremos ajudar é se propor a caminhar junto. Não se trata de querer guiar a pessoa, mas ajudar a pessoa a escolher seu próprio caminho. Não é uma tarefa fácil, e no fundo, não existe uma receita a ser seguida. Isso por que os elementos que fazem uma pessoa sentir que não está sozinha diz respeito àquela relação. Ou seja, aquilo que funciona para as pessoas A e B não necessariamente funcionará para as pessoas C e D.


Mas acredito que, quando as pessoas possuem uma boa relação, elas já sabem quais os caminhos que precisa seguir para fazer o outro se sentir acolhido. O problema está exatamente naquilo que impede as pessoas de chegar nesse conhecimento que já está ali. Ou seja, é mais provável que a pessoa simplesmente não esteja conseguindo ver o que fazer em relação à pessoa querida do que não saber de fato. E os pontos 1 e 2 são dois exemplos de como a relação que temos com nosso interior interfere nessa questão.


Vale dizer que esta é uma tarefa muito difícil. Falar da forma que estou fazendo é muito mais fácil do que de fato conseguir realizar o que disse. É necessário uma força muito intensa para seguir nesta empreitada. Mas acredito que há uma força suficiente para empurrar as pessoas no caminho desejado. Essa força é o amor. Acreditar neste amor também é uma forma muito própria de estar junto. E novamente, não existe uma fórmula para o amor. Ele é construído em cada relação, na forma como cada um se relaciona com o outro, e nunca é igual.


A boa notícia é que, primeiro, apesar de não ser uma tarefa fácil, a melhora que se busca é possível de ser alcançada. E além disso, ao ajudar aqueles que são próximos a nós a buscar sua cura, nós também nos curamos. Estudos mostram o quanto se dedicar ao cuidado dos outros produz efeitos positivos na realidade psíquica das pessoas. E como eu disse anteriormente, somo seres sociais, e na relação com o outro lidamos com nossos sofrimentos. É muito comum encontrar casos de que um relacionamento (entre casais, familiares, amigos, etc.) melhora muito quando uma das partes realiza psicoterapia. Acredito que para todos os pontos aqui apresentados, esta psicoterapia faz toda diferença. Caso se sinta capaz, procure terapia. Você pode também oferecer para a pessoa com quem se preocupa que faça terapia, mas entenda que talvez, aquele momento ela não esteja pronta para isso. Isso pode vir depois. E a própria pessoa encontrará este caminho. Mas o simples fato de você ter mostrado esta possibilidade, já produz efeito para esta pessoa.


Thiago Miranda

Psicólogo - CRP 05/62075


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