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A terapia fora da terapia

Atualizado: 26 de out. de 2023


O PAPEL DA TERAPIA


As segundas feiras, durante um tempo já, faço terapia. Algo curioso que algumas vezes é comum eu iniciar a semana com um certo desânimo. Ao conversar sobre com minha esposa, ela sempre diz: "Pelo menos hoje você tem terapia". A intenção por traz desta frase está na ideia de que o papel da terapia é aliviar um sentimento ruim que possuímos, ao desabafar com o terapeuta. O curioso é que, ao mesmo tempo, ela está certa e errada.


O que nos move até a terapia é a angústia. Angústia que nos faz sofrer, produz nossos sintomas, mas de certa forma, movimenta. Ou seja, é pelo sofrimento que buscamos a terapia, uma forma de dar conta deste sofrimento. Mas no caso da terapia psicanalítica, o que temos é uma disputa de saberes: um saber pré-definido ou esperado do qual esperamos nos encontrar para dar conta deste sofrimento, que seria aquilo que comumente buscamos num início de tratamento, e um outro saber, que encontramos na terapia, e ao fazer isso produz efeitos significativos.


Um dos movimentos mais importantes da clínica é uma mudança de olhar sobre os aqueles que estão dentro do processo. Se numa busca por um saber pré-definido ou esperado o olhar de quem vai fazer terapia está no analista do qual ele se encontra toda semana, na busca por um sinal, uma mensagem que resolva sua angústia, no processo terapêutico esse olhar passa a se voltar para o próprio sujeito que fala. Mas não se trata de ter consciência daquilo que se fala para produzir as mudanças em sua vida. Isso ocorre, mas não é o foco do processo. O que está em jogo é que, ao ser colocado numa posição em que o paciente passa a escutar a si, isso produz um efeito, e esta é a chave da transformação.


Desta forma, ir na terapia e desabafar os meus problemas que me afligem, por mais que produza um efeito de alívio da angústia que sinto, não é o foco do processo. A terapia é feita fora do consultório. A questão está nos efeitos daquilo que é falado naquele espaço tão diferenciado. Tais efeitos não se dão logo após serem falados. Não é possível precisar quando ou se irão fazer efeito. Não há uma noção exata do que falar para produzir um determinado efeito esperado. Uma fala do analista ou do paciente pode, por exemplo, produzir um efeito anos depois. Mas, não é de um tempo imediato que se trata a terapia.


A FALA ALÉM DA FALA


Um dos motivos é que ao tratar de nossas dores, não são só dessas dores que tratamos. Se falarmos de um medo de perder o emprego, ou de confiar nas pessoas, por debaixo desse medo há outros, e outros. Não só de baixo, como do lado. Um encadeamento de elementos que, aos poucos vamos aprendendo a lidar com eles. Um problema atual pode ser só um problema atual, e as vezes a terapia serve pra isso mesmo: pra botar pra fora tudo. "Limpeza de Chaminé", como diria Anna O. Mas, ao se propor em lidar com esse "outro saber", o saber do inconsciente, muitos outros elementos entram em jogo.


Assim, por mais que o objetivo do processo terapêutico seja lidar de uma forma melhor com nossas angústias, o processo não é dessa relação direta de falar dos problemas para lidar melhor com eles. Mas, no fundo, falamos dos problemas para lidarmos melhor com eles. Ao falarmos, normalmente melhoramos. Mas o que se busca é uma transformação em relação a esse outro saber, pois é através dele que nos encontraremos mais de acordo com nosso desejo.

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